Particularmente, vivo um dilema: em meu íntimo, reconheço aquela vontade de gravar meu nome na História do Mundo (assim, com letra maiúscula), fazer a diferença, deixar um legado substancial, palmas das mãos na calçada da fama (quem nunca), homenagem no Faustão (tá, mais ou menos) e coluna em revista cool – e mais tudo aquilo que, em minha ignorância humana, aprendo ser relevante para ser vista e, portanto, operar alguma transformação no mundo.
Por outro lado, principalmente após engajar-me na jornada do feminino, tenho ficado mais atenta àquilo que não possui platéia*: as preciosidades cotidianas, as quais eu já reconhecia com frequência, começaram a ficar muito, muito evidentes e, sim, reservei-me o direito, no início, de sentir-me orgulhosa de mim mesma, com pequenos incentivos que me impulsionavam a ir adiante.
Ainda me sinto muito orgulhosa de mim.
Da minha coragem, de como eu abraço a dor, de como eu faço um esforço extra pra me entregar ao fluxo.
Não é fácil.
Os boletos chegam, o medo de depender de marido espreita, fico com aquele pensamento insistente de “e se me acharem fracassada?” – pergunta que é gatilho pra uma série de diálogos internos importantes.
Primeiro, o que é fracasso. O que é sucesso. Por que, afinal, o valor está em ter o reconhecimento do outro (dos outros muitos), o que isso atende dentro de mim.
E a ressignificação das coisas. Todo dia, toda hora, a cada minuto.
Deleitar-me com uma mensagem carinhosa que me agradece pelos ouvidos atentos e palavras cirurgicamente colocadas.
Saber-me importante na vida de cada pessoa e valorizar, cada vez mais, o indivíduo.
Acalmar-me pensando que, se ao menos uma pessoa comparece a uma fala minha, já valeu a pena. E é suficiente.
Pensar sobre o suficiente não me faz acomodada ou negligente, lugar com linha tênue – me faz segura do que posso, do que ainda não posso e do que quero buscar.
Silenciosamente, acontece uma revolução quando fazemos a diferença para quem está ao nosso alcance.
E não precisamos mirar quem está longe.
Particularmente acho que não precisamos ir até a África fazer um trabalho voluntário e nada contra quem faça. Só penso que temos, aqui no bairro, aqui no prédio, aqui, ao alcance da nossa mão, terra fértil para transformar.
Gente que, em silêncio, às vezes não sabe como dizer “eu preciso de você”.
Mas, em silêncio ou não, estou aprendendo a dizer “eu estou aqui pra você”.
Inclusive nas empresas.
Que venham mais e mais revoluções silenciosas pra gente operar. Talvez aqui estejam as respostas que tanto buscamos nos grandes feitos, quem sabe? 🙂