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Pare de dizer: só depende de mim.

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Porque, às vezes, eu quero e não consigo.

Porque, muitas vezes, o meu cansaço me vence.

Mas, principalmente, porque eu não controlo o mundo – e nem quero.

Eu não serei acomodada por admitir que nem tudo depende de mim.

Pode confiar.

——–

Acompanho, nos últimos anos, uma crescente onda do que a Xuxa, na década de 80, já chamava de “Querer, Poder & Conseguir”: uma injeção (necessária) de auto-estima, auto-confiança, coragem e espírito empreendedor que nós, brasileiros, precisamos, para superar a comodidade construída em uma estrutura mais paternalista, na qual o Estado e/ou a Empresa são os responsáveis por quase-tudo (até por poupar o nosso dinheiro compulsoriamente).

Vejo, com felicidade, pessoas que realmente superam a procrastinação e empreendem uma jornada exitosa, alcançando resultados e melhorando a performance exponencialmente; satisfeitas, realizadas e dispostas a conquistar o mundo.

E tudo isso é muito bom, de verdade.

Eu mesma sou um exemplo (inconsciente-automático) de me comprometer comigo e sempre-sempre-sempre fazer o melhor que eu posso, com o maior sentido de responsabilidade e intencionando um alto grau de qualidade, porque é isso que faz sentido pra mim, desde sempre.

No entanto, muito jovem eu percebi que a cidade do interior onde eu morava não poderia me oferecer o que eu queria. E tive a sorte – sim, sorte – de ter uma mãe que se dispôs a ficar com o meu filho, para que eu me mudasse pra uma cidade: trabalhar de segunda à sábado mais de 10h por dia e fazer uma faculdade + cursos técnicos aos domingos.

Eu tive a sorte de casar com um cara que me ajudava a pagar a faculdade e, quando me mudei pra São Paulo, também ficava com o meu filho à noite, pra eu estudar. Tive a sorte de encontrar pessoas dispostas a apostar em mim e me dar um emprego – a me promover e me reconhecer porque não se sentiam ameaçadas por mim.

Porque sim, eu fui atrás de muita coisa. Estudei pra caramba, busquei os caminhos, nunca puxei o tapete de ninguém, fiz escolhas difíceis, sem, no entanto, sofrer.

Mas também já me senti paralisada. E isso não é uma desculpa para não fazer algo.

Também tive que lidar com as limitações de ter dois filhos.

Nunca fiz um intercâmbio ou larguei tudo pra morar fora – porque, veja bem, não quis separar os filhos do pai, porque não dava pra estar sozinha com eles em um lugar estranho, etc etc etc. E não são desculpas para não fazer algo.

Você pode argumentar que isso também foi uma escolha, que sempre tem um jeito, que eu poderia ter feito dar certo, que eu podia ter construído um plano, que…… – ok.

Partir do princípio de que tudo – TUDO – depende de você e da sua decisão racional de realizar, me parece muito duro, agressivo e injusto.

Injusto, porque te coloca nesse lugar de julgamento, classificando como “desculpa” o que seriam justificativas muito razoáveis para não fazer algo, porque você se importa com outros ou, simplesmente, porque alcançou o seu lugar de suficiência.

E, muitas vezes, esse lugar de suficiência pode ter outras raízes, como o seu sistema familiar, uma limitação cognitiva ou emocional, algo que você não necessariamente sabe de onde vem, ou como resolver.

E, às vezes, você nem tem forças pra isso.Ou não quer mesmo, mas quer querer, sabe?

E bate o desespero.

O estado de confusão.

Tenho recebido pessoas cansadas, não somente no consultório, mas nos círculos de mulheres, principalmente. Nas salas de aula. Em ambientes sociais diferentes, mas todas, TODAS as pessoas consumidas por uma opressão disfarçada de incentivo.

Eu acredito que nem tudo reside no querer.

E, ainda que eu queira, há maiores ou menores obstáculos no caminho – alguns, sim, intransponíveis, e isso depende de cada pessoa: sua história, seu contexto, suas possibilidades. O que é intransponível pra mim, pode não ser pra você.

É lindo dizer que o nosso mundo é criado pelos nossos pensamentos (e eu realmente acredito nisso), mas vai dizer pra mulher, mãe de 4 filhos no meio do tiroteio na favela do Rio de Janeiro, que ela tem que ter o pensamento positivo e ver o lado bom da vida – e que sair daquela situação só depende dela.

Entende?

Precisa existir um ponto de partida mínimo, material, emocional, social.

Mas isso é assunto pra outro texto.

Apenas pare de me dizer que só depende de mim.

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