O quanto um líder atrapalha?

O papel da liderança é amplamente reconhecido como um fator determinante para o sucesso – ou o insucesso – de uma organização social. Na verdade verdadeira, o papel de alguém que pretende estar à frente de um grupo, formalmente institucionalizado ou não, se visando algum objetivo, é sempre um papel ingrato, posto que sujeito a decisões impopulares, desafetos, discordâncias e com a exigência predominante de uma alta capacidade em suportar não ser amado.

Há muitos anos em cadeiras executivas de RH (dentro e fora do Brasil) eu provoco um questionamento anterior às afirmações categóricas quase-universais de que precisamos ter líderes melhores e essa provocação se volta contra nós, que desenhamos essa estrutura: pode, a liderança, dar conta de tudo o que exigimos dela, com o nível de excelência e a escassez de recursos dos quais dispomos; com a alta demanda por cuidado humano e a precariedade da mão de obra disponível; com a velocidade cada vez mais alucinante e a lentidão de um sistema que nos desafia a, em mais um dia, respirar fundo e seguir em frente por conta de um propósito?

Uma liderança dita eficaz não apenas guia a organização na realização de sua missão, mas também influencia diretamente a maneira como a organização opera e se sustenta a longo prazo. As temáticas relacionadas a impacto, produtividade, governança, sustentabilidade financeira, dentre tantas outras, são as frentes de conhecimento técnico e atuação comportamental as quais esta liderança precisa responder – o que parece, à primeira vista, impossível, certo?

E é, mesmo.

Contudo, ao sentar nesta cadeira, precisamos nos apropriar de uma postura ética que possui duas características fundamentais:
a) A primeira: nós escolhemos nos sentar aqui. E esse movimento, por si só, deveria, compulsoriamente, nos levar ao compromisso máximo de acordar, todos os dias, sabemos que nosso valor está (veja só) em resolver todos os problemas que surgem pelo caminho e eles são muitos!
b) A segunda: quebrar, de uma vez por todas, o óculos de lentes românticas que fantasiam um delírio utópico de que a comunicação entre o time será ótima, de que os processos estarão desenhados, de que todas as pessoas terão o mesmo ritmo e saberão resolver seus conflitos….

Em não sendo assim, um líder só atrapalha.

Quando duas pessoas se encontram para realizar um trabalho, antes de um encontro de talentos, adivinha? Nós temos um encontro de traumas. De medos, anseios, ferramentas em maior ou menor grau de amadurecimento, uma trama complexa de milhares de combinações possíveis, considerando os marcadores sociais, as questões de neurodivergência, condições em saúde mental – deu angústia só de ler?

Pois é. E, se líder também é gente (sempre importante lembrar), vale reforçar que o alcance das tais metas e o cumprimento do planejamento estratégico vai depender, acima de tudo, da capacidade dessa liderança em conciliar os interesses, articular as competências complementares e saber mandar. Sim, mandar.

Ocupar a posição de autoridade, responsabilidade e risco para a qual foi escolhida, se valendo de uma ferramenta revolucionária chamada… conversa. E a decisão, irrevogável e inegociável, de assumir, como estandarte, a verdade radical com abordagem afetiva, apontando a Estrela do Norte, sem largar o leme – mas sabendo que outros também podem manejá-lo, ainda que não à sua maneira.

Essa é a mágica máxima de não ser eterno.

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