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A fuga do que não pode ser remoto

Como ficarão os postos de trabalho que exigem presença física síncrona no
“novo normal”?

A motorista de ônibus, o professor, a atendente do supermercado, o caminhoneiro, o
garçom, as equipes de enfermagem, da construção civil e todas as pessoas que, para
realizarem os seus trabalhos, precisam estar presentes em local e horários fixos, pois disso
depende a interação com outras pessoas e o desenvolvimento do trabalho em si: qual é o
futuro dessas ocupações?
Diante das promessas sedutoras da internet e das ofertas de empresas que oferecem
posições 100% remotas ou híbridas, como imaginar voltar para um modelo que parece ter
“saído de moda”?
De repente, até o escritório chique parece uma má ideia se exige a presença do time, todo
dia útil em horário comercial, com a já velha fórmula de interação por educação profissional.
Como abrir mão de poder almoçar com a família, levar os filhos na escola, estudar no meio
da tarde – ainda que tudo isso seja, em essência, uma promessa que pode nunca ser
cumprida?
Para aquelas posições que convocam a vocação, aquele íntimo mobilizador da honra e do
propósito, teoricamente, fica mais fácil. A dedicação à saúde, salvar vidas, ensinar crianças
a ler, algo nessa linha (se bem remunerado) pode, ainda, ter algum apelo que nos faça abrir
mãos dos confortos anunciados aos quatro ventos em novas geografias digitais.
Mas e os postos que pouco remuneram, mas muito exigem?
E o desafio de educar todo um povo para um salto tecnológico que permite “codar” do sofá
de casa?
O que acontece quando, diante de dois cenários tão distintos de possibilidades de qualidade
de vida, ampliamos os abismos raciais, sociais e de gênero, oferecendo os melhores lugares,
sempre, às mesmas pessoas?
O “novo normal” pode ser uma armadilha, se seguirmos reproduzindo as lógicas daquele
ontem chamado 2019, mas, principalmente, se continuarmos a anunciar que o trabalho
remoto é um lugar perfeito de conciliação do tempo e descanso – coisa que não é.
A segurança psicológica vai fazer a diferença entre os times de boa performance em saúde
mental e aqueles que podem até entregar alguns resultados financeiros de curto prazo, mas
morrem aos poucos, medicados e no automático.
O equilíbrio ainda demora a chegar, é fruto da evolução de uma mentalidade e de novos
acordos no Capitalismo, que não assistirá o nosso prazer de braços cruzados.

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